NA TRILHA DA EDUCAÇÃO
.
Valdenice Alves da Silva
Universidade
Federal do Oeste da Bahia - UFOB
Os
jovens do campo ao longo da nossa história tiveram que receber uma educação do
campo construída na cidade por sujeitos da cidade, ou seja, o sujeito do campo
não participava e nem participa do processo de construção de sua própria educação.
Para
Caldart (2002, p.11) os povos do campo têm uma raiz própria, um jeito de viver
e de trabalhar, distintos do mundo urbano, e que inclui diferentes maneiras de
ver e de relacionar com o tempo, o espaço, o meio ambiente, bem como de viver e
de organizara família, a comunidade, o trabalho e a educação. Nos processos que
produzem sua existência vão também se produzindo como seres humanos.
Por
esse motivo a população do campo tem que contar com um ensino-aprendizagem relacionados
aos seus hábitos e costumes. A valorização dos saberes do camponês contribui
para que o mesmo permaneça no campo e colabore para o desenvolvimento de sua
comunidade.É Curioso constatar que desde ao início da década de 80 foi se
formando na sociedade brasileira o reconhecimento da educação como direito
humano.
Educação,
direito de todo cidadão, dever do Estado [...] Entretanto, esse grito não
chegou ao campo. Os homens e as mulheres, as crianças, os adolescentes ou
jovens do campo não estevam excluídos desse grito, porém não foram incluídos
ficaram á margem. O direito á educação
foi vinculado a uma concepção abstrata de cidadania , e não como capazes de
chegar á concretude humana e social, em
que os direitos se tornam realidade(
ARROYO; CALDART; MOLINA,2004,p.10).
A
população do campo continua recebendo uma educação desigual , uma educação que
ainda os mantêm refém de toda perversidade que se é feita em relação a
população campesina, por isso a luta por políticas públicas e que seja responsável pela melhoria da
educação que se é ofertada para os povos do campo. Conforme ARROYO(2004,p.71) [...]
A imagem que sempre temos na academia, na política, nos governos é que
para a escolinha rural qualquer coisa serve. Para mexer com a enxada não há
necessidades de muitas letras. Para sobreviver com uns trocados, para não levar
manta na
feira, não há necessidade de muitas letras. Em nossa história domina a imagem de
que as escolas do campo tem que ser apenas a escolinha rural, das primeira
letras. A escolinha cai não cai ,onde uma professora que quase não saber
ler ensina alguém a quase não saber
ler(ARROYO,2004,p.71).
Essa
é a concepção de educação para a população do campo que muitas pessoas tem
,acreditam que essa gente só precisar aprender o básico e que a educação para os povos do campo tem
que ser capenga. Queremos uma educação de qualidade para todos, uma educação
libertadora e não essa educação dominante, que nos conservam alienados e
explorados.
De
acordo com Caldart (2002,p.26) A educação do campo tem se desenvolvido em
muitos lugares através de programas , práticas comunitárias, de experiências pontuais,
não se trata de desvalorizar ou de ser contra essas iniciativas, porque ela têm
sido uma das marcas de nossa resistência (resistência dos movimentos sociais do
campo). Mas é preciso ter clareza de que isto não basta. A nossa luta é no
campo das políticas públicas porque esta é a única maneira de universalizarmos
o acesso de todos os povos á educação ( CALDART,2002,p.26).
A
educação é um direito de todos, porém muitos ainda não tem esse direito
concretizado grande parte da população não sabe ler nem escrever, e a falta de
políticas públicas voltadas para que todos tenha acesso á educação, esse quadro
somente mudará a partir do momento que todos participarem da luta por uma educação que alcance a todos os
povos.
De
acordo com Arroyo (1999, p.22) escola é mais um dos lugares onde nos educamos.
Os processos educativos acontecem fundamentalmente no movimento social, nas lutas,
no trabalho, na produção, na família, na vivência cotidiana. E a escola que tem
que fazer? Interpretar esses processos educativos que acontecem fora, fazer uma
síntese, organizar esses processos educativos em um projeto pedagógico, organizar
o conhecimento, socializar o técnico para interpretar e intervir na realidade,
na produção e na sociedade. A escola, os saberes escolares são um direito do
homem e da mulher do campo, porém os saberes, os valores: e a cultura, a formação
que acontece fora da escola .
A
Educação do campo deve contemplar as experiências e as histórias de vida desses
sujeitos, e não impor a esses sujeitos uma educação da e na cidade, os jovens e
crianças das zonas rurais merecem um ensino que conduza com as realidades que
são vivenciadas no seu dia – dia.
As formas tradicionais de desenvolverem-se as políticas públicas de
educação rural foram desqualificadoras da própria existência do campo e dos
seus sujeitos. Pensar uma educação do campo significa pensar o campo em toda
complexidade. (MOLINA, 2004, p.77)
O
homem do campo e o campo em si são desvalorizados pela população urbana ,a
descriminação perante esse povo tornou-se quase despercebidas por seus
opressores , e a falta de políticas públicas
voltadas para atender as necessidades desse contingente só faz aumentar cada
vez mais os problemas vivenciados por
essas comunidades rurais . Mostrar os
valores e a importância do homem do campo é fazer com que os povos das cidades compreendam que eles também
merecem uma educação que seja construída
por meio da sua cultura e dos seus costumes .
Segundo VinãoFrago
(1996, p.69)a cultura escolar contém práticas e condutas, de modo de vida, hábitos e ritos, a história cotidiana do saber
escolar, os objetos materiais, a função, o uso e a distribuição no espaço, a
materialidade física, a simbiologia, os modos de pensar, significados e idéias compartilhados. Porém, entre os
elementos que mais organizam e conformam a cultura escolar, estão os espaços e
tempos, as práticas discursivas e linguísticas ou as formas de comunicação:
Para VinãoFrago, estas tres dimensiones o aspecto - el espacio, el tiempo y el lenguaje o modos
de comunicación – afectan al ser humano de lleno , en su misma conciencia
interior, en todos sus pensamientos
y actividades, de modo
individual, grupal y como especie en
relación con la naturaleza de la que forma parte. Conforman y son
conformados, a su vez, por las instituciones educativas. De ahí su importancia.
(1995, p.69).
A
escola propõe regras, validações, punições que buscam moldar o sujeito educado.
Os tempos ,os espaços e a linguagem validados pela escola interiorizam-se no
sujeito, não apenas o instruindo intelectualmente mas formatando seus valores
e, em especial ,os valores sobre si mesmo(Vinão Frago,1995). Entre as regras
que são propostas, a organização do tempo : entre os tempos de estudar e os
tempos de brincar veem-se a valoração de atitudes que são consideradas estudo
ou perda de tempo ,relevantes ou irrelevantes atividades produtivas o
improdutivas .
Assim
que o estudante não tem que ser moldado pelo seu mestre, ele tem que si modelar
sozinho e que o educador seja, somente o mediador do seu aprendizado deixando-o
trilhar os Caminhos do seu conhecimento .
Muitas das vezes podemos perceber que o estudante não tem a oportunidade
de mesclar seus saberes com os saberes que lhe é fornecido no âmbito escolar ,
pois em alguns casos o professor não envolve a experiência do aluno com os temas
abordados durante as aulas.
Cavalcanti
(1998) diz que o ensino deve propiciar ao aluno a compreensão do espaço
geográfico na sua concretude, nas suas contradições.
Ainda,
que a escola tem a função de trazer o cotidiano para seu interior como intuito
de fazer uma reflexão sobre ele e a partir de uma confrontação com o
conhecimento cientifico. Nesse sentido, deve estar estritamente ligada ao
cotidiano. O professor deve fazer uma ponte entre o conteúdo trabalhado na
escola e o cotidiano do aluno,assim ele poderá fazer ter uma compreensão maior
do conteúdo.
A
vivência do aluno traz um papel muito importante para o seu desenvolvimento
dentro da escola ,pois contém elementos relevantes para que os mesmos possam similar
o cotidiano com os conteúdos fornecidos pelos docentes e assim enriquecer o seu
conhecimento. Por isso vale ressaltar sempre o quão indispensável é trabalhar
com a vivência do estudante com os conteúdos. CASTROGIOVANNI (2000) afirma que a
Geografia Escolar deve lidar com as representações do dia a dia dos alunos,
sendo necessário sobrepor o conhecimento do cotidiano aos conteúdos escolares,
sem entendermos quais os saberes que os aluno traz, partindo desse conhecimento
vivenciado no seu dia a dia , em seu meio e no entendimento que tem desse meio
inserido nesse contexto o conhecimento científico necessário a sua formação.
Por
esse motivo muitos teóricos defendem a oferta de uma educação do campo articulada
e desenvolvida coma participação dos povos do campo. Uma vez que os mesmos
nunca tiveram o direito de participar da construção da sua educação.
O
homem do campo não pode ser esquecido pela sociedade urbana, ele faz Parte de
nós e de nossa história, não temos o direito de negar a esses cidadãos uma
educação de qualidade, e que esse aprendizado possa fazer com que os mesmos
permaneçam no campo. Ele não deve ser obrigado a esquecer a sua cultura, suas
raízes, o seu modo de vida e se adaptar aos mitos e as distintas culturas do
meio urbano. Por isso carecemos de lutar para que se faça uma educação do campo
e para o povo do campo.
Do
seio dos movimentos sociais no campo brasileiro várias são as frentes de
organização e de luta contra a expropriação ,subordinação e exploração. Estas
várias frentes dão a impressão de pulverização desses movimentos. Embora ás
vezes fragmentados ,o movimento social do campo caminha dando mostra de que
cada dia está mais articulado (OLIVEIRA, 1994,p55).
Ainda
segundo o mesmo autor desta forma o campo brasileiro ,vai ,no seio das
condições do desenvolvimento capitalista no País ,forjando sua unidade de luta
na diversidade das suas origens. É pois ,este o caminho para a sua compreensão
e entendimento: diverso e contrário ( OLIVEIRA,1994,p.55)
Os
avanços tecnológicos e consequentemente a modernização da agricultura foi
responsável pela expulsão dos camponeses de suas terras,e aqueles poucos
camponeses que resistiram as manipulações e articulações do capital passam por
grandes dificuldades como falta de água potável, saneamento básico e
principalmente a falta de escolas com uma educação rural ,sabemos que para
haver desenvolvimento (e não estou falando somente de desenvolvimento
econômico.
Mas
principalmente de desenvolvimento humano) tem que se desenvolver uma educação basicamente produzida e articulada com os conhecimentos do homem do campo. Quando os submissos são obrigados a abandonar o campo e ir morar na
cidade ,sentem se deslocados de sua realidade e passam ater que conviver com as várias culturas que lhes são imposta.
A integração das economias e dos sistemas de comunicação
conduz ao surgimento de novas disparidades entre países ou entre regiões, entre
grupos sociais. O conceito de” comunicação- mundo pretende caracterizar tai
lógicas de exclusão”. (MARTTELLAT,2000,p.149- 151).
Essas
grandes extensões de terras estão concentradas nas mãos de inúmeros grupos
econômicos porque, no Brasil, estas funcionam ora como reserva de valor ,ora
como reserva patrimonial. Ou seja ,como instrumento de garantia para o acesso
ao sistema de financiamentos bancários, ou ao sistemas de políticas de
incentivos governamentais .Assim ,estamos diante de uma estrutura fundiária
violentamente concentrada e ,também ,diante
de um desenvolvimento capitalista que gera um enorme conjunto de
miseráveis( OLIVEIRA, 2001, p.187)
Esses
campesinos que ainda residem em suas terras sobrevivem essencialmente da renda gerada
pela agricultura familiar, é fato que essa atividade é desvalorizada perante a
economia gerada pelo agronegócio. Mas grande parcela da sociedade não tem
conhecimento da importância dessa atividade para a nossa alimentação, 70% de
tudo que consumimos no nosso dia –dia provém da agricultura familiar.
A
dicotomia campo- cidade ainda se faz bastante presente, mesmo que o meio técnico-cientifico-informacional
tenha impregnado o campo de elementos urbanos.
A educação é uma dessas disparidades que afeta diretamente campo, os
estudantes campesinos são alocados nas escolas das cidades e por trazerem
consigo culturas e histórias do seu cotidiano que por sua vez são distintas das
culturas e da história dos estudantes urbanos, muita das vezes são rotulados
como caipiras, atrasados, dentre outras denominações que lhes são atribuídos
por serem do campo.
Como
Arroyo (2004) relata, quando situamos a escola no horizonte dos direitos, temos
de lembrar que os direitos representam sujeitos – sujeitos de direitos, não
direitos abstratos -,que a escola ,a educação básica tem de se propor tratar o
homem ,a mulher, a criança, o jovem do campo como sujeitos de direitos .Como
sujeitos de história, de lutas, como sujeito dei intervenção como alguém que
constrói, que está participando de um projeto social. Por isso a escola tem de
levar em conta a história de cada educando e das lutas do campo. (ARROYO,2004,p.74).
Sabemos
que as escolas que acolhem os jovens e crianças do campo na cidade não trazem
em seu plano político pedagógico ações que condiz com a realidade dos mesmos, assim
que esses estudantes são educados nos moldes urbanos. O plano politico
pedagógico das mesmas não abrange nada sobre a realidade que é vivenciada por
esses jovens e crianças em suas comunidades.
Afastando – os cada vez mais da sua realidade, por isso se defende a
participação de todos os envolvidos no cotidiano da escola na participação da
construção do plano politico pedagógico.
De
acordo com Freire (1996, p.51) até o momento em que os oprimidos não tome
consciência das razões de seu estado de opressão “aceitam “ fatalistamente a
sua exploração. Mas ainda, provavelmente assumam posições passivas, alheadas,
com relação á necessidade de sua própria luta pela conquista da liberdade e de
sua afirmação no mundo. Nisto reside sua “convivência” com o regime opressor.
Para que isso seja possível, os oprimidos devem receber uma educação que os
ensinem como eles tem que pensar e agir de acordo com as suas reivindicações e
não uma educação que os tornem passivos e aceitem tudo que são impostos por uma
sociedade basicamente excludente.
A
educação ainda é a melhor forma de fazer com que esses oprimidos tenham o poder
de lutar e conquistar progressos necessários para se viver dignamente. Sabemos
que os déspotas mantêm essas pessoas na condição de abusados por que os mesmos
não tiveram a oportunidade de ter uma educação de qualidade da forma que os
seus exploradores alcançaram.
A
intencionalidade dos opressores é que os oprimidos sigam sem conhecer o ensejo
que os mantêm oprimidos. Assim que por esse único motivo os déspotas investem
em assistencialismo para poder manobrar essa população. Um desses
assistencialismos se faz marcante na educação que se é ofertada aos camponeses,
que é uma educação que os conserve adormecidos perante as suas reais
necessidades. De tal modo que:
Freire
afirma que na verdade, o que pretendem os opressores “é transformar a mentalidade
dos oprimidos e não a situação que os oprime’’ e isto para que melhor
adaptando-os a esta situação, melhor os dominem(Freire,1968,p.60).
Os
opressores criam estratégias para que os explorados sigam sem enxergar as suas
tiranias diante dos mesmos, assim que as lutas para que se possa erradicar os
abusos postos pelos opressores vão desde a educação até simples movimentos
organizados. Assim que para o mesmo autor (2003, p.52) somente quando os
oprimidos descobrem, nitidamente, o opressor, se engajam na luta organizada.
Por sua libertação, começam a crer em si mesmos, superando, assim, sua “convivência”
com o regime opressor. Se esta descoberta não pode ser feita em nível puramente
intelectual, mas da ação, o que nos parece fundamental é que esta não se cinja
a mero ativismo, mas esteja associado a sério empenho de reflexão, para que
seja práxis.
As
lutas realizadas por meios dos movimentos organizados ainda é a melhor forma de
se contrapor mediante as atrocidades que
são impostas aos oprimidos pelo sistema dos opressores. Exclusivamente por meio
de lutas e de uma educação de qualidade poderá se erradicar as explorações
implantadas e que durante séculos os mantêm dominados.
Como
predomina a concepção unilateral da relação cidade-campo, muitas prefeituras
trazem as crianças para as cidades, num trajeto de horas de viagem, por
estradas precárias, com a finalidade de reduzir custos, e as colocam em classes
separadas das crianças da cidade, reforçando desta forma a dicotomia ainda
presente no imaginário da sociedade. Ou então são colocadas na mesma sala, onde
são chamadas de atrasadas pelos colegas, ou mesmo por alguns de seus
professores urbanos e, para serem modernas passam a assumir valores duvidosos
(FERNANDES; CERIOLI E; CALDART, 2004, p.38).
Isso
obriga grande parte dos estudantes do campo a assumir denodos da cidade para
serem bem vistos pelos colegas da escola da cidade. Aqueles que se negam a
esconder os seus valores passa a serem perseguidos com apelidos e brincadeiras
maldosas.
A
dicotomia campo– cidade ainda se faz bastante presente, mesmo que o meio técnico-cientifico-informacional
tenha impregnado o campo de elementos urbanos.
A educação é uma dessas disparidades que afeta diretamente o campo, os
estudantes campesinos são alocados nas escolas das cidades e por trazerem
consigo culturas e histórias do seu cotidiano que por sua vez são distintas das
culturas e da história dos estudantes urbanos, muita das vezes são rotulados
como caipiras, atrasados, dentre outras denominações que lhes são atribuídos
por serem do campo.
Não
é do nosso interesse a cópia de modelos importados de escolas que não
contribuem para a compreensão de nossa realidade;queremos o direito a cultivar
nossa própria identidade, para ter condições reais de intercambio e de
participação na discussão da educação brasileira como um todo; (FERNANDES;
CERIOLI; CALDART, 2004, p.52)
Por
isso a luta para que se construa um modelo de educação com a identidade e
cultura do homem do campo, não devemos impor uma educação na qual esses povos
percam a sua identidade ,hábitos e culturas ,mas sim um ensino que possa vincular o seu aprendizado a sua
história.
A
necessidade de uma proposta de ensino diferenciada está então pautada pelo fato
de que as realidades do campo e da cidade são diferentes, mas a educação que
até hoje se realizou no campo e na cidade para alunos provindos da zona rural
esteve pautada em valores que não eram por eles totalmente partilhadas. Fato
este observado principalmente pela exclusão ou pelo fracasso escolar, destes
alunos que quando inseridos na educação escolar, não viam nesta educação um
significado real para a realidade em que viviam (ARROYO, 2004).
Por
isso a indagação sobre a educação que se é ofertada para essa população que
reside no campo, mas que são educados nas escolas das cidades, esses jovens tem
que ser educados no campo, em seu lugar que é o lugar onde os mesmo possuem
suas raízes e cotidiano diferenciado dos hábitos da cidade. Mesmo que na zona
rural possamos perceber objetos do urbano, eles ainda trazem consigo a algumas
diferenças do seu meio, do seu lugar, como, por exemplo, a relação com o meio ambiente,
o modo de vida, entre fatos distintos que os vinculam ao seu lugar.
Para
justificar o uso da expressão “campo”, na conferência que discutiu a
possibilidade de uma educação específica, o MST, através de um de seus
intelectuais orgânicos, argumentava, naquele momento, que a defesa do termo
campo em oposição ao rural se daria, devido ao:objetivo de incluir no processo
da conferência uma reflexão sobre o sentido atual do trabalho camponês e as
lutas sociais e culturais dos grupos que vivem hoje e tentam garantir a
sobrevivência desse trabalho.
Mas
quando se discutir a educação do campo se estará tratando da educação que se
volta ao conjunto dos trabalhadores e das trabalhadoras do campo, sejam
camponeses, incluindo quilombolas, sejam as nações indígenas, sejam os
diversos tipos de assalariados vinculados à vida e ao trabalho no meio rural
(KOLLING et al, 1999, p. 26). Sabemos que esses camponeses ,quilombolas e as
nações indígenas sempre foram deixados de lado
tanto na questão da educação como
nos outros contextos, Defendendo a mesma linha de interpretação e com
argumentos semelhantes, Arroyo, Caldart e Molina afirmam que :
Educação do Campo tem
compromisso com a vida, com a luta e com o movimento social que está buscando
construir um espaço onde possamos viver com dignidade. A Escola, ao assumir a
caminhada do povo do campo, ajuda a interpretar os processos educativos que
acontecem fora dela e contribui para a inserção de educadora /educadores e
educandas/educandos na transformação da sociedade (ARROYO;
CALDART;MOLINA,1998,p.161)
A
educação do campo reflete ainda, por parte de alguns autores, um certo
saudosismo em relação à vida do homem do campo. É nesta perspectiva que estes
autores salientam que: a Educação do Campo precisa resgatar os valores do povo
que se contrapõem ao individualismo, ao consumismo e demais contra valores que
degradam a sociedade em que vivemos. A Escola é um dos espaços para antecipar,
pela vivência e pela correção fraterna, as relações humanas que cultivem a
cooperação, a solidariedade, o sentido de justiça e o zelo pela natureza
(ARROYO; CALDART; MOLINA, 1998, p. 162).
De
acordo com o artigo 28 da LDB na oferta da educação básica para a população rural,
os sistemas de ensino promoverão as adaptações necessárias á sua adequação ás
peculiaridades de vida rural e de cada região, especialmente:
I – conteúdos
curriculares e metodologias apropriadas ás reais necessidades e interesses dos
alunos da zona rural;
II – organização
escolar própria, incluindo adequação do calendário escolar às fases do ciclo
agrícola e às condições climáticas;
III
– adequação à natureza do trabalho na zona rural. Trabalhando com o cotidiano o
educador amplia o horizonte do conhecimento do educando, fazendo com que o mesmo
relacione os acontecimentos do seu lugar , do seu mundo com os conteúdos
contidos nos livros e assim construir
novos conhecimentos. Daí a extrema importância de usar o cotidiano do educando
para o seu ensino – aprendizagem. Outro fator a ser observado diante do ensino
aprendizagem desses jovens diz respeito ao ensino geográfico, como o educando
inclui o cotidiano do mesmo nas abordagens geográfica que são ministrados por eles,
como esses estudantes relacionam o tema com a sua comunidade e assim descobrir
novos conhecimentos. (p.25)
Assim que para Cavalcanti(1998,p.23),ao
trabalhar com o cotidiano e o conhecimento geográfico, diz que:“Ao manipular as
coisas do cotidiano, os indivíduos vão construindo uma geografia e um
conhecimento geográfico”(Cavalcanti, 1998, p.23)
Nesta perspectiva
torna-se interessante, investigar qual seja a identidade destes lugares , a
partir dos interesses das pessoas que vivem ali. Reconhecer os valores , as
crenças, as tradições e investigar os significados que tem para as pessoas que
vivem ali . A cultura que dá esse conjunto de características ás pessoas e aos
povos se expressa no espaço através de marcas que configuram as paisagens:
(CALLAI,2005,p.243).
Os conhecimentos que são adquiridos por esses povos em
suas comunidades vêm carregados de significados e que são de suma importância
para o desenvolvimento do seu aprendizado, valorizar os seus conhecimentos
passa ser a chave para que se tenha uma educação voltada para o campo e com
elementos e sujeitos do e no campo.
O lugar e o cotidiano
são elementos fundamentais para a disseminação do saber geográfico entre os
estudantes, parafraseando Callai (2002) que propõe que Lugar é onde
vivemos, moramos, trabalhamos, enfim, onde acontece nossa vida. Ler o mundo da
vida, ler o espaço e compreender que as paisagens que podemos ver são o
resultado da vida em sociedade dos homens na busca pela sobrevivência e pela
satisfação de suas necessidades, significa “estudar o lugar compreender o
mundo’’(CALLAI, 2002)”.
O lugar vem
impregnado de histórias , saberes ,culturas ,a leitura do mundo começa a partir
do lugar de vivencia do sujeito e essa leitura proporciona novas formas de
compreensão de conceitos ,linguagens e temas .
Segundo Castellar
(2005), a leitura do lugar de vivência está relacionada, entre outros conceitos,
com os que estruturam o conhecimento geográfico, por exemplo, localização,
orientação, território, região, natureza, paisagem, espaço e tempo. E essa
leitura , necessária para se saber agir sobre o lugar de vivencia, é uma
importante questão de cidadania , de ética e de cultura que pode dar
significado a como , por que , para que e
para quem ensinar geografia na
escola e por que aprendê-la.
O pensamento
simbólico, representacional, acontece passo a passo quando, por exemplo, a
criança, colocada em situações de aprendizagem medidas , compreende a função
dos símbolos e dos signos criados
socialmente, como a linguagem de um modo geral ou , no caso da geografia , a
linguagem dos mapas , por exemplo, como se dá a formação de conceitos básicos. .
A geografia escolar têm que citar elementos do
dia-a-dia do aluno e similar com os temas abordados pelos educadores, o
cotidiano do educando deve fazer parte do seu aprendizado, os saberes dos
alunos despertam o interesse dos mesmos pelo conhecimento que é abordado pelo
maestro.
Castrogiovanni (2000) afirma que a Geografia Escolar
deve lidar comas representações da vida dos alunos, sendo necessário sobrepor o
conhecimento do cotidiano aos conteúdos escolares, sem distanciar-se, em
demasiado formalismo teórico da ciência. É primordial entendermos quais os
saberes que o aluno traz, partindo desse conhecimento vivenciado no dia a dia,
em seu meio e no entendimento que tem desse meio inserido neste contexto o
conhecimento cientifico necessário a sua formação.
Sabemos queo modelo
educacional vigente no país sempre foi idealizado pela classe dominante com o
intuito de influenciar na educação dos trabalhadores e da população rural para
que assim possam seguir mantendo essa grande parte da sociedade brasileira como
oprimidos,De tal modo que Arroyo afirma :
A burguesia agrária,
industrial ou financeira, tradicional ou moderna, sempre teve um projeto
educativo específico para as classes subalternas, para fazer cidadãos e
trabalhadores submissos a seus interesses (ARROYO, 1986, p. 17).
A burguesia que
comanda o nosso País nunca se comprometeu em ofertar uma educação que os
libertassem desse sistema opressor que os mantem escravizados de todos essas
barbaridades que são feitas diante de essa gente que trabalha de sol a sol para
sustentar o país.
Educar nessa
sociedade é tarefa de partido, isto é, não educa para a mudança aquele que
ignora o momento em que vive, aquele que pensa estar alheio ao conflito que o
cerca. É tarefa de partido porque não é possível ao educador permanecer neutro:
ou educa a favor dos privilégios ou contra eles, ou a favor das classes
dominadas ou contra elas. Aquele que se diz neutro estará apenas servindo aos
interesses do mais forte (GADOTTI, 1995, p. 87).
Os partidos são os
responsáveis pela educação porque os professores tem que atender as ordem dos
políticos e não seguir as propostas pedagógicas, pois a educação ofertada tem
que atender as ordens dos dominantes. No Brasil isso é muito comum, pois desde
a chegada dos portugueses somente as classes dominantes que governavam o
território recebiam educação de qualidade , os demais seguiam dominados pela
elite exploradora. De concordata com o mesmo autor:
Discutir política na
educação não significa reduzir tudo ao político, como se o político explicasse
tudo. Significa não ignorar os prolongamentos políticos do ato pedagógico.
Perceber, por exemplo, que há uma estreita relação entre o rendimento escolar
do aluno e as suas condições sociais e econômicas. Perceber, em relação a esse
fato, que o aluno que recebe a melhor nota é, principalmente, aquele que tem
origem social privilegiada. Perceber ainda que o acesso à escola continua sendo
privilégio. Mas não só estabelecer relações entre escola e sociedade, se não
estabelecer relações também entre o que se ensina e o conteúdo ideológico do
que se ensina, entre os valores que testemunha o educador e os padrões de
comportamento exigidos por uma sociedade ou pelo grupo social dominante
(GADOTTI, 1995, p. 88).
A educação do campo reflete ainda, por parte de alguns
autores, um certo saudosismo em relação à vida do homem do campo. É nesta
perspectiva que estes autores salientam que: a Educação do Campo precisa
resgatar os valores do povo que se contrapõem ao individualismo, ao consumismo
e demais contra valores que degradam a sociedade em que vivemos. A Escola é um
dos espaços para antecipar, pela vivência e pela correção fraterna, as relações
humanas que cultivem a cooperação, a solidariedade, o sentido de justiça e o
zelo pela natureza(ARROYO; CALDART; MOLINA, 1998, p. 162).